Resiliência – Como manter o foco? Persistência, Humildade ou ambos?
- Luciano Lima
- 24 de mar. de 2022
- 5 min de leitura
Pensei muito antes de escrever este artigo. Principalmente porque desta vez envolve uma trajetória profissional e pessoal.
Uma frase atribuída a Confúcio diz: "As palavras ensinam, mas os exemplos arrastam.”

Então mais uma vez vou caminhar pelo perigoso caminho de utilizar as experiências pessoais e profissionais para abordar um tema que pode ser útil em algum momento da carreira.
Me recordo de dois grandes líderes que tive o grande prazer de trabalhar que sempre diziam: “Eu não sou diretor, estou diretor”. Ainda complementavam: “Hoje estou nessa posição, mas a qualquer momento a empresa pode entender que preciso assumir um novo programa”.
Nesse caso tratava-se de uma grande construtora e a necessidade de adaptabilidade, mudança e novos desafios era constante.
Pois bem, vamos iniciar a jornada deste texto partindo da premissa da mudança, algo muito mais corriqueiro em nossas carreiras do que a algumas décadas atrás.

Por falar em década, a história que vou tentar narrar se passa exatamente na década passada. Entre os anos de 2007 a 2012 o nosso país passou por uma fase de intenso crescimento. Me recordo que os colegas engenheiros que se formavam nessa época eram disputados pelos estrondosos programas “Trainee”.
Da mesma forma, um outro indicador prático dessa época era a locação de escritórios. A capital de Minas Gerais passou a protagonizar o crescimento de empresas de engenharia e de mineradoras de grande porte. A região sul da capital não conseguiu atender a demanda de imóveis corporativos para a locação. Uma história interessante foi a de locação de um Pilotis de um prédio para que fosse transformado em escritório, pois já não existiam opções na região.
Enfim, era um cenário de otimismo, investimentos vultuosos na indústria de matéria-prima, indústria de base e transformação (Mineração, Óleo e Gás, Siderurgia, automobilística etc.).
Infelizmente após esse período de intenso crescimento do mercado de trabalho, iniciou-se o declínio, já em 2013.
Nesta época trabalhava em uma grande mineradora, cujos projetos de capital somavam bilhões de dólares. Com o cenário de crise mundial, atrelado ao cenário nacional, os projetos foram aos poucos sendo cancelados. E após várias mudanças organizacionais que havia sobrevivido, surge agora uma demissão.

Uma situação nova, pois desde o início dos anos 1990, nunca havia sido demitido. Ou seja, após 22 anos na indústria a primeira demissão.
Entretanto, com mercado ainda muito aquecido, ao tentar retornar ao mercado de trabalho, surgem três oportunidades e todas excelentes.
Feliz por ter recebido três propostas formais de emprego, a decisão foi continuar na área de suprimentos em uma empresa de engenharia que estava a frente da implantação de um grande projeto de minério de ferro. Um projeto vultuoso e um contrato de fornecimento na modalidade EPC, algo talvez inédito na mineração para este porte.
A crise pegou em cheio este projeto, pois o cliente final apostou alto no segmento de óleo e gás, e realizou especulação na bolsa de valores, causando a sua falência.
Hesitei um pouco em comentar sobre essa passagem específica, pois foi a primeira vez na minha carreira que não cheguei a cumprir o período de experiência. Isso mesmo! Em noventa dias fui demitido pela segunda vez.
2013, ano em que novamente precisei voltar ao mercado. Apesar da crise iniciada, o mercado de trabalho ainda permanecia aquecido e um grande profissional me convidou para atuar como gerente de um novo negócio em uma multinacional. Dessa vez retornando para área de vendas.
Durante dois anos precisei alterar meu “Mindset” de suprimentos por quase cinco anos, em empresas com aquisições pujantes e de perfil dominador para nova atuação na área de vendas, atendimento ao cliente. Hoje percebo que a mudança não foi tão simples quanto imaginei na época.
Dois anos após aceitar esse desafio a crise se agravou e atingiu em cheio o setor de mineração e construção. A empresa precisou fazer cortes no quadro gerencial e novamente estava de volta ao mercado.
A partir de agora vou interromper a linha histórica de carreira e focar no ponto que quero chamar a atenção como exemplo de resiliência e persistência. Neste momento percebi que estava desempregado e sem perspectiva de emprego em função da grave crise que assolava nosso país.
Num primeiro momento a crise se mostrou uma oportunidade. Iniciei o trabalho com dois grandes profissionais atuando com representante comercial, com representações de peso no mercado de mineração. Infelizmente é um mercado que os resultados demoram um pouco para surgirem em função da complexidade dos setores de suprimentos destes clientes.

Mas enfim, após esta etapa como representante identifiquei que seria necessário prover algum resultado para o meu lar. Foi quando adquiri um automóvel seminovo e iniciei o trabalho como motorista de aplicativo.
Em poucos meses surgiu também uma oportunidade como consultor imobiliário.
Pois bem, escrevo essa história toda não para me vangloriar ou expor essa peregrinação intensa em menos de dez anos. Na verdade, as novas experiências me permitiram crescer muito profissionalmente. Principalmente a experiência como consultor imobiliário.
Já fazia tempo que não atuava em vendas diretas, somente vendas B2B. Ou seja, havia perdido o traquejo de abordar uma pessoa, criar uma oportunidade e fechar o negócio. Foi nessa experiência de consultor imobiliário que pude novamente recordar os conceitos do início da minha carreira como vendedor de purificador de água no centro da capital mineira.
Claro que tive o apoio de um grande profissional da área e talvez poderia ter sido uma guinada na minha carreira, pois as possibilidades deste ramo são ilimitadas. Entretanto requer um trabalho árduo, muitas vezes com plantões em finais de semana, ações de marketing e abordagem em eventos diversos etc.

Fui convidado para voltar para o mercado de trabalho em uma multinacional. Optei por voltar para a atuação de origem, mas confesso que poderia ter obtido sucesso nesse novo segmento de trabalho que surgiu no momento que a crise me atingiu.
Não cabe lamentar, pois como diria um grande líder que tive o prazer de trabalhar: “Pior do que a decisão errada é não decidir”. Portanto, decidi voltar para o fascinante mercado de vendas para mineração e que tenho muito orgulho de ter uma intensa história.
A resiliência é uma característica crucial para sobrevivência no mercado de trabalho, principalmente no nosso país. Diria que é muito difícil adquirir esta habilidade, pois no meu caso fui impelido a situações que me obrigaram a ter resiliência.
A persistência é naturalmente uma característica do profissional de vendas que ama a sua profissão como eu. Ou somos persistentes ou nem saímos de casa. Mas confesso que essa experiência como consultor imobiliário, mesmo que momentânea, permitiu aprimorar a persistência.
Humildade, essa talvez seja a característica que mais me identifico. Não é fácil estar como executivo de uma grande empresa e ser responsável pelas aquisições de alguns milhares de dólares, onde o poder exerce influência na vida pessoal, voltar para a área de vendas e na sequência estar disponível para o mercado de trabalho. É necessário possuir muita maturidade para se adaptar a nova realidade sem afetar a vida pessoal ou até mesmo a saúde mental.
Espero que o leitor não confunda humildade com ingenuidade. O contexto e o conceito que tenho de humildade é exatamente o exemplo do início do texto: Hoje eu não sou um gerente de conta, eu estou nessa posição.
Esse pequeno artigo não tem pretensão de fornecer embasamento teórico ou fomentar discussões conceituais sobre o tema. Meu intuito foi de apenas tentar exemplificar um conceito amplamente difundido em sua aplicação prática. Mesmo que o exemplo tenha sido expor os desafios profissionais vivenciados na década passada.
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